09 da manhã...
Paro na Rua Augusta com um grupo de corrida, entro num café e ouço na televisão:
«Morreu Eusébio da Silva Ferreira.»
Parei, voltei para trás, olhei para o ecrã... era mesmo verdade! Nem queria acreditar!
Há coisas inacreditáveis!
Vontade de desligar, vontade de não correr...
Olho para todos os que me rodeiam... não sinto neles a tristeza que me invade... tento abstrair-me, vamos lá! Afinal, vieste para correr!
Arrancamos... passados minutos, estamos na Praça do Comércio, a tirar fotografias e a esboçar sorrisos...
Assim acontece, quando estou triste, esboço um sorriso para a câmara... aprendi com o Mário Lima, d'O Mundo da Corrida, a sorrir sempre, mesmo quando a tristeza nos invade!
Retomamos o treino, ainda não estou em mim...
Por incrível que pareça, só me recordo do anúncio de uma morte de alguém famoso... Estava sozinho... Eram 3 da manhã e regressava a casa, após mais uma noitada... Ouvi na rádio do meu velho Golf, que Diana tinha morrido... a lembrança tem tudo a ver com o momento, uma vez que nem sequer era fã da personagem... Pela forma abrupta como recebi a notícia... a seco, como ontem...
Apesar disso, ontem foi diferente...
Eusébio, é como se fosse o meu pai e o meu Pai é como se fosse Eusébio!
São dois ídolos para mim e com estórias cruzadas entre eles...
Desde Fevereiro do ano passado que tenho este receio... da embolia pulmonar ficaram as sequelas respiratórias e temo sempre que haja uma qualquer recaída, como Eusébio teve várias até ao final.
Mal cheguei a casa, corri para o meu Pai e voltei a aconselhá-lo a «mexer-se», porque não quero receber uma notícia semelhante tão cedo...
Depois, chorei...n vezes... não consegui conter a emoção... ver alguns dos seus maiores Amigos a falar dele (Simões, Toni, João Malheiro, David Borges) e pensar ao mesmo tempo no meu Pai!
Tive o prazer de ver jogar Eusébio ainda no antigo Estádio da Luz, no seu último jogo de homenagem e foi das maiores alegrias que o futebol me deu!
Lembro igualmente uma fantástica série sobre o King que passou na RTP 2, «Eusébio - Um jogador de todos os tempos» e que eu religiosamente gravava no meu velhinho VHS e revia, sonhando ser um pouco como ele... e a emoção regressava sempre... com aquela música, tão bem escolhida...
Havia nele a máxima tensão
Como um clássico ordenava a própria força
Sabia a contenção e era explosão
Não era só instinto era ciência
Magia e teoria já só prática
Havia nele a arte e a inteligência
Do puro e sua matemática
Buscava o golo mais que golo – só palavra
Abstracção ponto no espaço teorema
Despido do supérfluo rematava
E então não era golo – era poema.
Ao fim do dia, percebi que há quem não entenda a dimensão de Eusébio...
Ouvi dizer: «mal vai o país, quando a sua maior figura, é um futebolista»...
Como escreveu o meu grande Amigo Rui Lança:
«Muitos não se apercebem do que é perder alguém que representa muito do que o resto do mundo sabe de nós.»
Ontem foi um dos dias mais tristes da minha Vida, por muita coisa mas, sobretudo, pela morte de Eusébio...
Hoje passei no Estádio da Luz, apenas para lhe prestar a minha homenagem...
Photo by KMister |
A emoção, essa, é que continuou a ser a mesma...
Morreste-me! E com a tua morte, morro também um pouco...
Leio/ouço palavras fantásticas que ilustram muito mais do que aquilo que eu consiga digitar... da «Tragédia» de Miguel Esteves Cardoso, ao «Mais Grande que» de Fernando Alves... mas nunca serão suficientes!
Ouço pessoas a discutir se deve ir ou não para o Panteão Nacional, quando acho que isso nem sequer merece discussão!
E para mim, há já algum tempo que acho que o Estádio que é da Luz, deve passar a ser d'Eusébio!
Descansa em Paz, King Eusébio
* «Morreste-me», é o título de uma obra da autoria de José Luís Peixoto - não consigo encontrar palavra tão abrangente para descrever o que hoje sinto.
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