domingo, 31 de janeiro de 2010

Electra convulsa

Fim de tarde agradável e plateia cheia para assistir ao novo trabalho de Olga Roriz, «Electra»...

Acompanhado da «especialista» Catw, aguardamos enquanto vemos a bailarina fitar-nos nos olhos e comentamos o «à-vontade» com que se passeia no enorme palco do Teatro Camões... quase despido de adereços... dois simples armários de gavetas e uma cadeira...
Inicia-se a música de carácter depressivo, apesar de tudo a melhor da noite...
Daí em diante, assistimos estupefactos a uma fraquíssima prestação, original apenas nas imensas convulsões que Olga parece sofrer em palco... no constante vestir e despir da roupa que traja... uma gratuitidade de nus frontais que não se percebe...
Sem qualquer interligação entre passagens, por vezes parece esquecer-se dos movimentos a realizar... uma música que passa de depressiva a fúnebre... plateia com alguns risos, comentários, abandonos...
Tento vislumbrar o «complexo de Electra», tento encontrar algum senso no que vejo, mas a mensagem da Catw, diz tudo: «se quiseres, vamos já embora»... Não fomos, apenas porque os lugares eram centrais e não seria de bom tom incomodar os que assistiam, tentando entender o que se passava...
Hora e meia mal passada, a pensar no dinheiro dos contribuintes que é utilizado para desenvolver uma coisa destas... a produção é extraordinariamente barata... presumo que os subsídios sejam muito bem aproveitados pela autora, noutro tipo de palcos...
Sendo a Fundação EDP, mecenas exclusiva e o espectáculo denominado «Electra», a pergunta faz sentido:
Onde está a electricidade???
Dificilmente voltaremos a ver Roriz... uma enorme desilusão...
Uma última nota para o nosso público... eventualmente por vergonha, ainda houve alguns aplausos que não fizeram esquecer a desgraçada performance...

13 comentários:

Lou Salomé disse...

Que medo!!! :-((( Nem sei que faça... vou ou não??! Nem espero resposta, pois acho que já a li! :-(

Juro disse...

Bolas.... ainda bem que avisas....

PSousa disse...

Lou, foste? Vais? Depois diz qualquer coisa...
Obrigado pelo support...

Bj doce

PSousa disse...

Juro, já não ias a tempo... aquela era a última data em Lisboa... felizmente!

;)

Bj

olga roriz disse...

Bom, nem sei bem o que dizer de tão insensível ataque.
Não sei se lhe fale sobre a minha exaustiva pesquisa sobre essa personagem mitológica. Se lhe diga que o meu ponto de partida nunca passou pelo complexo de Electra mas sim pela sua complexa personalidade, pela sua solidão e incansável espera, pelos seus temores, os seus ódios e amores, pelas suas lutas, as suas dores, os seus lamentos, pelo seu espírito guerreiro e corajoso, pela sua insegurança e uma vez mais a solidão e uma vez mais a interminável espera. Esse não saber o que fazer…a desistência…o fazer e refazer…a desistência uma vez mais…o esquecimento. O peito aberto ao Mundo para quem a quisesse ferir…
Poderia ficar a falar da minha Electra toda a noite, mas seria inútil pois o Paulo não iria entender. Lamento!
Um abraço Olga

PSousa disse...

Cara Olga,

como comentei com Amigos meus que a foram ver no Porto... efectivamente a insensibilidade pode ser minha... e a avaliar pelos quatro encores que recebeu lá... seguramente as pessoas que a viram, souberam apreciar algo que eu não «vi»...
Já tive a felicidade de assistir a alguns dos seus trabalhos e provavelmente estaria eu à espera de outro tipo de apresentação... pelo que constatei à minha volta no Camões, não seria apenas eu...
Espero não que entenda as minhas palavras como um ataque pessoal, mas apenas como uma desilusão perante uma performance tão trabalhada e tão aguardada...

Uma última palavra para a sua grandeza... responder-me só o demonstra.
Desejo-lhe a maior felicidade a nível pessoal e profissional.
Por uma opinião menos interessante minha, terá seguramente muitas mais no sentido contrário...

Cumps

Ana disse...

Partilho da tua opinião, Paulo. Também fiquei desiludida. Esperava ver dança...Já vi tantos bailados fabulosos no TC ou no S.Luiz, mas a esta 'Electra' não consigo chamar de bailado. E tenho mesmo pena que o público seja educado desta forma. Sem querer desprestigiar o trabalho de pesquisa feito, acredito que a transposição dos sentimentos e personalidade de Electra podiam ter sido traduzidos em mais do que se viu. Muito mais.
Poderá também tratar-se de insensibilidade da minha parte? Não creio; De conceitos diferentes de dança? Talvez; Ou, de uma maior exigência como espectadora? Sim, definitivamente.

olga roriz disse...

Cara Ana isto vai de vento em popa.
Estou a ver que o melhor era não ter respondido ao Paulo e pura e simplesmente ignorar. Será? Acho que não1
Quanto ao seu comentário, apenas um correcção. Eu não faço bailado, nunca fiz! O bailado vem do ballet clássico.
Eu crio espectáculos de dança (dança-teatro como alguns chamam).
Por outro lado e longe de mim haver aqui algum tom de justificação, tenho 54 anos. Se a Ana soubesse o que realmente é dança sabia ver que o mínimo gesto que faço é dançado com uma preciosa técnica de muitos anos de trabalhpo. Se a Ana fosse ver outra vez iria reparar (ou não, talvez não tenha essa capacidade) que cada gesto, cada olhar é rigorosamente igual em cada espectáculo. Nada é deixado ao acaso, nada é improviso...
Bom, por aqui fico. Não a levo a mal, apenas gosto de conversar, partilhar e por vezes corrigir.

olga roriz disse...

Caro Paulo
Apenas uma informação: a EDP é mecenas exclusivo da COMPANHIA NACIONAL DE BAILADO e não da COMPANHIA OLGA RORIZ.
Nós não recebemos um tostão da EDP.
Quanto à conversa dos contribuintes, caro Paulo, foi de mau gosto. Seria uma longa conversa...e agora tenho de ir para o Teatro preparar o meu corpo e alma par conseguir entregar-me ao público que me espera.
Mais um abraço e obrigada por me publicar, Olga

vs disse...

Fui assistir à Electra da Olga Roriz no Porto e saí a meio, tendo o cuidado de não incomodar ninguém ao fazê-lo, mas incomodada. Todos temos as nossas esperas solitárias e incansáveis, as nossas lutas e as nossas feridas... ódios e amores, nem se fala, dores e lamentos... já para não falar de personalidades complexas. Os poetas clássicos Gregos escreveram sobre isso como ninguém e de forma que até hoje entendemos. Não ponho em causa o trabalho que criadora diz ter feito, questiono é o resultado, o contributo da artista para a visão da ELECTRA, o motivo para a revisitar ou um acrescento ao que ela representa.

PSousa disse...

Cara Olga,

duas notas adicionais aos seus comentários:
1- Relativamente ao mecenato da Fundação EDP considerei, pelos vistos erradamente, que o anúncio que é feito antes de cada espectáculo no Camões se referisse à CNB e que, uma vez que é feito esse mesmo anúncio antes do seu espectáculo, o seu espectáculo também estaria ao abrigo do mesmo, apesar de ter companhia própria. Não foi brilhante, admito. Se o seu trabalho não é subsidiado, merece uma salva de palmas, porque consegue trabalhar sem a subsidite aguda que grassa no país.

2- Publicá-la-ei sempre que visitar este espaço, porque uma crítica deve ser sempre passível de resposta.
Escrevo ou, quando conheço, digo directamente o que penso (no campo profissional ou pessoal), sem rodeios e sem o uso do politicamente correcto, tão conveniente à maioria dos que gravitam neste mundo.

Continuação de bom trabalho

PSousa disse...

Cara VS, obrigado pela visita e pelo comentário. Não procuro consensos, muito menos julgamentos públicos, apenas a expressão de opiniões dos momentos que tenho oportunidade de viver.

Cumprimentos

Ana disse...

Cara Olga, só agora reparei que me respondeu directamente. Sem querer dar a mesma conotação negativa que a Olga deu na sua resposta, realço do meu anterior comentário a minha dúvida quanto ao conceito de dança - já que fez questão de me elucidar nesta matéria. E essa dúvida foi realmente esclarecida. É um facto. Temos conceitos de dança diferentes. Também temos conceitos de 'espectáculo' diferentes. E não temo em dizer-lhe, frontalmente, que não gosto do seu conceito. Não por insensibilidade minha, acredite. Mas porque já vi outros espectáculos (de dança e também de bailado - e não me refiro ao bailado clássico, mas ao bailado contemporâneo) para poder estabelecer uma comparação justa. E que o tema não seja a justificação, pois volto a referir: «acredito que a transposição dos sentimentos e personalidade de Electra podiam ter sido traduzidos em mais do que se viu. Muito mais.» E nada mais tenho a dizer sobre isto.