segunda-feira, 31 de agosto de 2009

O deserto que atravessámos


«Queria mais, vê tu! Queria viver no limite todos os dias, queria que as coisas estivessem sempre a correr. Conhecer novas pessoas todo o tempo, sair, ir a discotecas, divertir-me todos os dias (...)
agora que te foste embora para a tua vida, agora que sei que também tu voltaste para uma casa onde tens alguém à tua espera, alguém que te ama, alguém que te dá paz, também a mim, de repente, me apetecia poder ir para casa e ter à minha espera alguém que me amasse. Não, não estou a dizer que fosses tu. Não estou a dizer isso, estou a falar de alguém. Alguém sem nome.
Eu sei que algures, mais adiante na minha vida, hei-de encontrar quem esteja em casa à minha espera quando eu chegar. Sim, eu sei, está escrito, é sempre assim. Mas era agora que eu queria não sentir este vazio, não te sentir tão distante, tão longe do deserto. Queria só dar um sentido à nossa viagem. Já sei, já sei que nada dura para sempre - só as montanhas e os rios, meu sábio. Mas o que fomos nós um para o outro: apenas companheiros ocasionais de viagem? (...)
Não ficou mais nada lá atrás, não deixámos nada de nós os dois no deserto que atravessámos»
In No teu deserto, de Miguel Sousa Tavares

Isto é parecido com qualquer coisa que conheço... há cada coincidência...
E será que não ficou mesmo nada?

4 comentários:

utopista disse...

Tu, daqui a pouco, transcreveste o livro.
Todos temos sensações assim.
Podemos, ou não, dar-lhes relevo, importância; na hora em que ocorrem; ou muito mais tarde.
Se calhar, até interpretando excessivamente, na altura; ou mais tarde.
Dá-me a ideia que só vemos esse deserto quando já pouco resta (de sensações) à nossa volta.
Fantástico mesmo é que esse desejo de amar, essa sensação transformadora, ocorra e seja vivida no momento em que é descoberta. E importa pouco o tempo que dura. Porque, enquanto dura é para toda a vida; porque está lá a vida toda.
Como a imensidão do deserto e os seus ventos sussurrantes.

sonjita disse...

Fenomenal... qualquer um se encaixa neste texto... quem já não viu o outro seguir caminho? Quem não ficou com alguma história por escrever? Fica sempre alguma coisa no deserto que atravessamos... o que acontece é que por vezes fica lá, no deserto!

BJka

PSousa disse...

Mano,

o livro está cheio de pontos em comum...
ou eles existem ou eu procuro-os ;)

Importa é que dure... e mais importante, que exista...

Abraço

PSousa disse...

Sonj,

feliz por gostares das escolhas...
o que conta é a busca incessante de um oásis...
Deserto (que não de ideias) também é bom...
mas começa a dar vontade de encontrar algo mais...

Bj