terça-feira, 30 de março de 2010

The Book of Eli


Podia chamar-se «Mad Max 4» ou «Ensaio sobre a Cegueira 2»...
Chama-se «The Book of Eli» e é o novo filme dos irmãos Hughes, tendo Denzel Washington como protagonista e produtor (acredito até, que seja um projecto de vida)...
Para mim, de culto, apesar das críticas...
O tom sépia, tornando o cenário quase monocromático e a fotografia fantástica, fazem com que desejasse ter um poster de cada frame... e este filme tem mais conteúdo nas entrelinhas do que nos diálogos das personagens...
Num pós-apocalipse, sem necessidade de introduções ou de funestas explicações, Eli é alguém com um propósito...
trinta invernos passados a rumar a oeste...
Nada nem ninguém o detém... apesar de parecer atrair problemas como um iman...
O livro de Eli é a Bíblia e assistimos a um rewind histórico...
numa luta pelo «livro que torna as pessoas mais poderosas», «uma arma»...
Mais do que as cenas coreografadas... o que me surpreendeu foram os cenários minimal e, fundamentalmente, os silêncios ensurdecedores... que nos deixam multi-interpretações, seja do que se passa no mundo de Eli, no nosso mundo e, mais importante, connosco...
A fé é importante e a questão principal... seja em Deus ou, no mínimo, em nós próprios... quem não acredita, pelo menos em si, perece...
Cegos são aqueles que não querem ver...
«bELIeve in hope»

domingo, 28 de março de 2010

Tu messias mais


se ninguém te quiser ouvir grita
escala um arranha-céus e diz tudo
até que as entranhas se esvaiam em acordeões
até que sejas impossível de ignorar
e se te baterem bate a mais portas
e se te baterem mais usa a testa como aríete e entra-lhes nos pensamentos
tu sabes que tens razão
tu tens sempre razão
tu vais salvar toda a gente de si própria
tu sabes o segredo que lhes vai mudar as vidas
tu és o sopro que lhes falta quando assobiam
o som da trombeta
o guizo do chapéu
o rasgo do papel
o mago da magia
o marco do correio
o pico do cume
a água do dromedário
tu vieste para ajudar
tu só queres ajudar
então porque não te deixam?
porque não te sopram carinho ao ouvido e te chamam nomes feios que tu sabes não serem da tua família nem da afastada
a sociedade também foi feita para ti
um bocadinho foi
um buraquinho foi
porque não te deixam entrar lá?
porque não te deixam estar lá?
querem-te à chuva e ao frio
sem amigos
sem calor
sem pão
sem sal
não te dão nem um naco da tua própria carne
nem a luz do teu quarto
nem o silêncio da tua mente
e tu aceitas?
e tu ficas-te?
e tu não protestas?
seu banana
seu falhado
seu funcionário sem sindicato
sua mulherzinha que nunca votou
sua criancinha que limpa o prato
seu homossexual não assumido
seu cão sem pulgas
seu cabrão sem cornos
seu tronco sem pau
seu pau mandado
seu arado sem terra
seu dinossauro radioactivo sem cidade japonesa
seu lamparina sem petróleo que foi inundar uma gaivota
seu cabeça sem capacho
seu diamante
seu bruto
seu papa-açorda
seu caramelo
seu lambe-cus
seu
seu
seu
seu és tu
seu és tu ouviste
seu é contigo
seu é para ti acorda
já é noite
já foi dia
amanhã vai ser tudo isso outra vez e tu estás ao relento
não tens onde ficar
não tens lugar na terra e ninguém to vai dar se não esgravatares
procura
pede
come
ataca
implora
arrasta-te
resvala
escorrega
assusta-os
ignora-os
tu sabes que tens razão
e a tua razão é respirar
se respiras tens direito à vida
se tens direito à vida tens direito a chorar
se tens direito a chorar tens direito a voz
se tens direito a voz tens direito a que te ouçam
se tens direito a que te ouçam tens direito a dizer algo que lhes mude as vidas
se tens direito a dizer algo a que lhes mude as vidas tens direito a mudar também a tua
não peças respeito
nasce respeitado
não implores por dignidade
apregoa a dignificação do Homem
não mendigues comida
acaba com a fome
não protejas os teus filhos
protege todos os filhos
não procures uma religião
faz o que um Deus bom faria
não ouças tudo o que te dizem
ouve todos os que falam
tens direito ao teu canto
e o teu canto é o de mudar tudo
tu podes mudar tudo
tu deves mudar tudo
tu sabes mudar tudo
repara nas pessoas e muda-as para melhor se elas quiserem
aproveita para ires melhorando também
dá-te como se fosses de borla
não peças nada em troca mas dá com um sorriso mais rasgado a quem te der um beijo no fim
não tenhas medo que te interpretem mal
aliás não tenhas medo que te interpretem
aliás não tenhas medo
guarda o melhor para os outros e o pior para ti
mas não sejas cruel contigo que és o único que tens
tens que ter noção do teu papel
e o teu papel é duro como se embrulhasse pregos ou cacos que não queremos nas mãos do senhor da recolha nem nos dentes do gato vadio
o que tu vais fazer agora porque é o único tempo que te pertence é mudar
mudar até que nada fica igual
até que esteja mesmo do agrado de todos
mas se por acaso no meio do teu percurso de conflito e mudança
no meio da tua jornada de luta pelo bem encontrares algo de profundamente belo
não lhe mexas
não lhe toques
pega numa cadeira de praia monta-a e senta-te calmamente a apreciar


João Negreiros, in "a verdade dói e pode estar errada"


Tive o prazer de conhecer e confraternizar na passada semana com João Negreiros, novo e seguro valor da poesia portuguesa, a convite da minha Amiga C.Law...
Momento para mais tarde recordar, num espaço (Frágil) que não pisava há mais de 15 anos, numa performance digna de ser gravada...

O João teve a amabilidade de me escrever algumas palavras no seu fantástico livro, "a verdade dói e pode estar errada":
«(...) os melhores poemas para os novos Amigos (...)»
Faço meus, os votos do João: os melhores poemas para vocês, meus Amigos!
Mudem tudo!
Eu vou cumprir a minha parte! Também mereço mais!

quinta-feira, 25 de março de 2010

Take it all on

Capacidade de regeneração a toda a prova...
Á procura da boa forma...
mas como se diz no Norte:
«Estou como o aço!»

quarta-feira, 24 de março de 2010

If

Se eu consigo... tu também és capaz!

If you can keep your head when all about you
Are losing theirs and blaming it on you;
If you can trust yourself when all men doubt you,
But make allowance for their doubting too;
If you can wait and not be tired by waiting,
Or, being lied about, don't deal in lies,
Or, being hated, don't give way to hating,
And yet don't look too good, nor talk too wise;

If you can dream - and not make dreams your master;
If you can think - and not make thoughts your aim;
If you can meet with triumph and disaster
And treat those two imposters just the same;
If you can bear to hear the truth you've spoken
Twisted by knaves to make a trap for fools,
Or watch the things you gave your life to broken,
And stoop and build 'em up with wornout tools;

If you can make one heap of all your winnings
And risk it on one turn of pitch-and-toss,
And lose, and start again at your beginnings
And never breath a word about your loss;
If you can force your heart and nerve and sinew
To serve your turn long after they are gone,
And so hold on when there is nothing in you
Except the Will which says to them: "Hold on";

If you can talk with crowds and keep your virtue,
Or walk with kings - nor lose the common touch;
If neither foes nor loving friends can hurt you;
If all men count with you, but none too much;
If you can fill the unforgiving minute
With sixty seconds' worth of distance run -
Yours is the Earth and everything that's in it,
And - which is more - you'll be a Man my son!


Rudyard Kipling

segunda-feira, 22 de março de 2010

Águas de Março

As águas passam de mês em mês... mas não há como as de Março...

É pau, é pedra,
é o fim do caminho
É um resto de toco,
é um pouco sozinho

É um caco de vidro,
é a vida, é o sol
É a noite, é a morte,
é um laço, é o anzol

É peroba do campo,
é o nó da madeira
Caingá, candeia,
é o Matita Pereira

É madeira de vento,
tombo da ribanceira
É o mistério profundo,
é o queira ou não queira

É o vento ventando,
é o fim da ladeira
É a viga, é o vão,
festa da cumeeira

É a chuva chovendo,
é conversa ribeira
Das águas de março,
é o fim da canseira

É o pé, é o chão,
é a marcha estradeira
Passarinho na mão,
pedra de atiradeira

É uma ave no céu,
é uma ave no chão
É um regato, é uma fonte,
é um pedaço de pão

É o fundo do poço,
é o fim do caminho
No rosto o desgosto,
é um pouco sozinho

É um estrepe, é um prego,
é uma conta, é um conto
É uma ponta, é um ponto,
é um pingo pingando

É um peixe, é um gesto,
é uma prata brilhando
É a luz da manhã,
é o tijolo chegando

É a lenha, é o dia,
é o fim da picada
É a garrafa de cana,
o estilhaço na estrada

É o projeto da casa,
é o corpo na cama
É o carro enguiçado,
é a lama, é a lama

É um passo, é uma ponte,
é um sapo, é uma rã
É um resto de mato,
na luz da manhã

São as águas de março
fechando o verão
É a promessa de vida
no teu coração

É uma cobra, é um pau,
é João, é José
É um espinho na mão,
é um corte no pé

É um passo, é uma ponte,
é um sapo, é uma rã
É um belo horizonte,
é uma febre terçã

São as águas de março
fechando o verão
É a promessa de vida
no teu coração

sexta-feira, 19 de março de 2010

Rebirth


«Março é um bom mês para começar outra vez»
in site Lux Frágil

sábado, 13 de março de 2010

Mr. Brightside

Pas(z) (re)encontrada...
longe dos negativismos...
Re-criado, como me pediu a Lou...
a afastar-me dos moinhos de vento, como me sugeriu o Cardeal...
A música desta viagem simboliza isso mesmo...
Cantada todas as noites, vivida todos os dias!
Destiny is calling me!
I'm Mr. Brightside!


segunda-feira, 8 de março de 2010

À procura...

de mim... assim...

Ou quase... ;)
Hoje já foi fantástico...

sábado, 6 de março de 2010

Fui...


Carpe Diem!

quarta-feira, 3 de março de 2010

Φ-Day

Espero que o teu desejo se concretize...
Parabéns!

Oh my baby baby I love you more than I can tell
I don't think I can live without you
And I know that I never will
Oh my baby baby I want you so it scares me to death
I can't say anymore than "I love you"
Everything else is a waste of breath
I want you
You've had your fun you don't get well no more
I want you
Your fingernails go dragging down the wall
Be careful darling you might fall
I want you
I woke up and one of us was crying
I want you
You said "Young man I do believe you're dying"
I want you
If you need a second opinion as you seem to do these days
You can look in my eyes and you can count the ways
I want you
Did you mean to tell me but seem to forget
I want you
Since when were you so generous and inarticulate
I want you
It's the stupid details that my heart is breaking for
It's the way your shoulders shake and what they're shaking for
I want you
it's knowing that he knows you now after only guessing
It's the thought of him undressing you or you undressing
I want you
He tossed some tatty compliment your way
I want you
And you were fool enough to love it when he said
"I want you"
I want you
The truth can't hurt you it's just like the dark
It scares you witless
But in time you see things clear and stark
I want you
Go on and hurt me then we'll let it drop
I want you
I'm afraid I won't know where to stop
I want you
I'm not ashamed to say I cried for you
I want you
I want to know the things you did that we do too
I want you
I want to hear he pleases you more than I do
I want you
I might as well be useless for all it means to you
I want you
Did you call his name out as he held you down
I want you
Oh no my darling not with that clown
I want you
You've had your fun you don't get well no more
I want you
No-one who wants you could want you more
I want you
Every night when I go off to bed and when I wake up
I want you
I want you
I'm going to say it again 'til I instill it
I know I'm going to feel this way until you kill it
I want you
I want you


I want You, by Elvis Costello

terça-feira, 2 de março de 2010

A Single Man

Prefiro títulos em inglês, mas a tradução deste («Um Homem Singular») representa aquilo que efectivamente é o estreante argumentista/realizador Tom Ford...

Estilo por todos os poros, é o que respiramos na sua primeira obra...
Ford convence os mais cépticos, demonstrando que não é apenas óptimo no mundo da moda...
Um génio da imagem, com especial atenção a todo e qualquer detalhe que nos surge no grande ecrã...
Fantástica fotografia e uma belíssima banda sonora...
Filme de incrível força, com sabor amargo e alguma violência psicológica...
Best performance ever de Colin Firth, bem secundado por uma Julianne Moore, a merecer maior preponderância...
Um dia na vida de alguém (que pretende, seja o seu último) que sente a perda como uma ausência impossível de superar...
Um longo e angustiante adeus, de um homem que podia ter tudo, mas a quem lhe falta o mais importante... um pedaço de si... que é feito de gente...
A sépia casa de forma lindíssima com a melancolia de um ser a quem foi castrada a hipótese de ser feliz... mesmo que o sonho americano lhe bata à porta de cada esquina, sala de aula ou loja de conveniência...
Não só pela imagem, mas também pelo magnífico uso da palavra, sou cativado:
«Waking up begins with saying "am" and "now".»
«I always used to tell him that only fools could possibly escape the simple truth that now isn't simply now: it's a cold reminder. One day later than yesterday, one year later than last year, and that sooner or later it will come.»
«A few times in my life I've had moments of absolute clarity, when for a few brief seconds the silence drowns out the noise and I can feel rather than think, and things seem so sharp and the world seems so fresh. I can never make these moments last. I cling to them, but like everything, they fade. I have lived my life on these moments. They pull me back to the present, and I realize that everything is exactly the way it was meant to be. »
Emoção profunda, verdadeiramente sentida, perante um dos mais belos filmes a que já assisti, com fim anunciado no princípio...
Chamar-lhe-ia «fashion film», que só podia ser assinado por um poeta do design, que demonstra toda a sua qualidade e sensibilidade, numa das estreias mais fulgurantes a que já assisti...

Masterpiece!

segunda-feira, 1 de março de 2010

Prazer

Ontem voltei a sentir... a correr...
Por minutos, Miramar desceu à Costa...
Voltei a percorrer 10K abaixo de uma hora, depois do acidente do ano passado...
Mesmo sem treinar...
Quase um ano para voltar a purificar a alma...

O desafio é fazer uma meia-maratona este ano... e eu vou conseguir!

i

Março, mês de (muitas) mudanças e decisões

Alea Jacta Est