domingo, 31 de janeiro de 2010

Electra convulsa

Fim de tarde agradável e plateia cheia para assistir ao novo trabalho de Olga Roriz, «Electra»...

Acompanhado da «especialista» Catw, aguardamos enquanto vemos a bailarina fitar-nos nos olhos e comentamos o «à-vontade» com que se passeia no enorme palco do Teatro Camões... quase despido de adereços... dois simples armários de gavetas e uma cadeira...
Inicia-se a música de carácter depressivo, apesar de tudo a melhor da noite...
Daí em diante, assistimos estupefactos a uma fraquíssima prestação, original apenas nas imensas convulsões que Olga parece sofrer em palco... no constante vestir e despir da roupa que traja... uma gratuitidade de nus frontais que não se percebe...
Sem qualquer interligação entre passagens, por vezes parece esquecer-se dos movimentos a realizar... uma música que passa de depressiva a fúnebre... plateia com alguns risos, comentários, abandonos...
Tento vislumbrar o «complexo de Electra», tento encontrar algum senso no que vejo, mas a mensagem da Catw, diz tudo: «se quiseres, vamos já embora»... Não fomos, apenas porque os lugares eram centrais e não seria de bom tom incomodar os que assistiam, tentando entender o que se passava...
Hora e meia mal passada, a pensar no dinheiro dos contribuintes que é utilizado para desenvolver uma coisa destas... a produção é extraordinariamente barata... presumo que os subsídios sejam muito bem aproveitados pela autora, noutro tipo de palcos...
Sendo a Fundação EDP, mecenas exclusiva e o espectáculo denominado «Electra», a pergunta faz sentido:
Onde está a electricidade???
Dificilmente voltaremos a ver Roriz... uma enorme desilusão...
Uma última nota para o nosso público... eventualmente por vergonha, ainda houve alguns aplausos que não fizeram esquecer a desgraçada performance...

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Long Way Round


Finalmente terminei a viagem visual... pelo princípio...
A Vespinha emprestou (obrigado, Amiga!) e passados alguns meses... consegui finalmente ver a série inicial...
Uma maratona nocturna a coincidir com as dores que se iniciaram na passada noite de sábado, redundaram que adormecesse às 7 da manhã, com todos os episódios revistos, da primeira saga de moto, desta dupla (Ewan McGregor & Charlie Boorman)...
London to New York, atravessando o leste europeu e vagueando pelo norte da América...
Uma estrutura bem mais rudimentar que a de Long Way Down...
Deu também para perceber como se cria um determinado espírito de grupo e, muito ao de leve, como se prepara uma viagem destas...
Das vicissitudes da escolha das motos a utilizar... engraçado como a KTM não acreditou que eles conseguissem, recusando a escolha preferencial de Boorman (e a BMW ganhou uma bela aposta publicitária)...
Passando pelas dificuldades com as embaixadas, os vistos, um operador de câmara sem carta de moto...
A preparação que apesar do que referi, apenas está ao alcance de alguém com uma estrutura por trás...
Dos treinos de sobrevivência, aos de mecânica e off-road (mais uma vez fornecidos pela marca bávara)...
O menu é sensivelmente o mesmo da segunda série...
Três motos, dois carros de apoio e um sonho concluído com sucesso...
Treze países visitados...
32.000 km... em 115 dias...
Repetem-se as atribulações entre fronteiras...
E o laço que se formou com a UNICEF... dói ver como ainda se sofre por causa de Chernobyl, tanta vida devastada e tanta criança sem futuro...
A beleza do Cazaquistão e suas gentes...
A dureza da Mongólia...
O magnífico espírito de equipa para atravessar a Estrada dos Ossos (conhecida assim pelos cadáveres enterrados na mesma, aquando da ditadura estalinista)...
A beleza da vida selvagem...
Obstáculos quase inultrapassáveis...
Os acidentes...
O norte americano é passado claramente mais a correr... porque menos interessante...
Mas o prazer de um objectivo superado, uma experiência de uma vida e uma aventura que, se percebeu mais tarde, não ficar apenas por ali...
Mais uma grande série...
O mesmo despertar de vontades...

Este ano, será de viagens (duas marcadas, dez por definir)... uma delas, será de moto...
BMW, Ducati ou KTM? ;)

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Triângulo Obsceno

Eu traio
Tu trais
Ele trai
«Toda a gente é capaz de trair», diz uma pessoa que conheço... tento provar-lhe por palavras e exemplos, que isso não é exactamente assim... talvez falte acrescentar à frase: «não quer dizer que o faça».
Tempos atrás, fiz uma estatística sobre os que me rodeiam... e o resultado não era nada simpático...
Engraçado como vemos as coisas sob diferentes perspectivas, consoante o ângulo que ocupamos no triângulo...

Se traímos, se ajudamos a trair, se somos traídos... acho que já os ocupei todos...
Mais engraçado ainda (ou sem piada alguma), é estar no papel de espectador e ouvir alguém a dizer que se sentiu muito mal quando foi traído(a) e lá temos o nosso sentido de compaixão a vir ao de cima...
Posteriormente sabemos que esse mesmo alguém... que se augura ser incapaz de trair, esteve com outrém enquanto amante (chamemos-lhe assim?)... mas nesse momento, nenhum pensamento que estava a «estragar» algo, que provavelmente até já estaria estragado, lhe ocorreu...
As relações humanas são fantásticas, não? Love it!
Desde que não seja nada connosco... tudo impecável!
A soma dos quadrados dos catetos é igual à hipotenusa, é um teorema para (e de) Pitágoras...
Tentar fazer destes triângulos algo de rectângulo, é bem diferente...
Depois do equilátero, do isósceles, do escaleno... o obsceno...
Diferentes ângulos, diferentes perspectivas, igual realidade...
ou serão diferentes realidades?

Need Air

Porque ando há demasiados dias a necessitar de Air... (para além de agora ter de recuperar a audição também...)
Porque me apetece desligar há algum tempo e tenho dificuldade em fazer algo a que me habituei, que @work, designamos por «corte de operações»...
Porque de manhã é branco, à tarde é colorido... e à noite é preto...
Porque me canso de tantas variações de humor e da falta de algo que rime...
Por tudo isto e talvez também porque as noites são consumidas awake e os químicos ingeridos nos últimos dias batem todos os meus recordes... recupero o psicadélico concerto dos Air no Coliseu dos Recreios... no passado dia 16...

A Time Out recordava quando fazia a apresentação, dos frascos que se vendiam anos atrás, na cidade-luz, com «Air de Paris»... a fragância daquela cidade...
Nesse sábado, decidi em cima da hora, que necessitava desse Air... para me ajudar a clarificar ideias ou simplesmente transportar-me para outra dimensão... não me enganei...
Sou fã de Air, desde o início... como era fã de Jean-Michel Jarre e me perguntavam na época (ainda perguntam) quem são esses...

Nicolas Godin e Jean-Benoit Dunckel, abriram a época de grandes concertos 2010 com um concerto surpreendente a vários níveis...
Uma sala inesperadamente lotada, apesar de tudo apontar para um concerto demasiado morno...
Lisboa assistiu a um alinhamento quase perfeito, dos temas de Love2, passando por Venus, Cherry Blossom Girl, Playground Love em versão instrumental, How does it make you feel?, Alpha Beta Gaga fechando antes dos encores com Kelly watch the stars

e retomando com Sexy Boy, Heaven's light e terminando em apoteose com o mais psicadélico de todos (pelo ambiente criado e ilustrado no vídeo abaixo), La Femme D'Argent

Um público entendido e entregue que criou um ambiente tranquilo, electrónico, ‘posh’ e etéreo...

Resultado delicioso e mais uma noite muito bem passada...
A outra dimensão foi atingida e o alheamento foi total... a clarificação ficou por fazer...
A necessitar de mais Air...

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Sutra

O ano começou agora, mas devem existir poucos espectáculos em 2010, como Sutra...
Sutra, derivado de sutta em Pali, é usado para designar qualquer um dos sermões ou escrituras narrativas de Buda.

Sidi Larbi Cherkaoui, famoso coréografo flamengo-marroquino, regressou a Portugal com um trabalho inspirado na técnica, força e espiritualidade dos monges de Shaolin.
Com um cenário minimalista de mutação constante da autoria do multipremiado artista plástico Antony Gormley, uma banda sonora serena e melancólica do polaco Szymon Brzóska, tocada ao vivo por cinco músicos, dezassete monges e o coréografo assistente Ali Ben Lotfi (a lembrar o Dr. House e deixando as minhas Amigas Catw e Ngan muito bem impressionadas ;)) dão cor a uma representação moderna e quase mística... combinando movimento,rapidez, fluidez e acrobacia, resultando numa dimensão de profunda sensibilidade e poesia...

Hipnotizante!
No final e após um apoteótico aplauso de vários minutos, não resisti a adquirir o DVD e a banda sonora...
Do que vi em toda a minha vida, apenas «Fuerza Bruta» poderá superar esta apresentação...

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Up in the air


«Estar nas nuvens», é uma expressão nacional para quando estamos bem...
Aqui a tradução do título do filme de Jason Reitman, é capaz de não ser a mais condizente...
Nas nuvens, é uma ocupação de tempo para Ryan Bingham (George Clooney), vaidoso, egoísta e avesso a relacionamentos...
Para além disso, é especialista em despedir pessoas, tendo como objectivo último atingir um número recorde de milhas aéreas...
É assim que nos é apresentado... será essa a verdadeira realidade?
A ilusão das aparências é pródiga neste filme, magistralmente dirigido...
Percebe-se que apesar de fazer as coisas (demitir pessoas) como um qualquer médico de oncologia, o personagem de Clooney nutre alguma preocupação pela forma como lida com pessoas que vão ver o seu quotidiano virado do avesso (a tentativa de demissão com a rookie Anna Kendrick, é de mestre)...
Mais do que qualquer aversão à mudança, pelo facto de ficar sentado a uma secretária a dirigir demissões por videoconferência, há uma real constatação de uma vida que não existe... uma vida de cartão, retratada pelo recorte em cartão da irmã e seu noivo (que o irão acompanhar nas suas próximas viagens)... de memórias inexistentes pelos locais por onde passa, durante 320 dias do ano...
Dá conferências motivacionais a explicar como é possível viver com um pequeno trolley e levar apenas aquilo que é necessário, abandonando a maior parte da bagagem... e constata que a sua vida se resume ao tal trolley... porque quando o avião aterra, constata que o seu T1 está vazio de conteúdo, tal qual a sua vida...
«How much does your life weigh?»
Revejo-me, em parte, neste papel (não no Clooney, claro ;))... sou responsável por maximizar com o mínimo... devo ser o elementos do grupo empresarial onde trabalho, que mais pessoas despediu... e embora não viaje de avião com a regularidade que desejaria (não em trabalho sff)... ainda há poucos dias, partilhava a minha casa com alguém e dei-me conta que a mesma parecia abandonada, de tão pouco que tinha de conteúdo... parece que passei o último ano e meio em viagem... talvez tenha sido...
Efectivamente ainda há algumas diferenças substanciais para com o personagem... tenho um número de Amigos invejável (serão eles as minhas milhas?)...
«Make no mistake, your relationships are the heaviest components in your life»
e tenho vivido momentos fantásticos... vividos a correr...
«The slower we move, the faster we die. Moving is living»
mas a casa não deixa de estar vazia... e quando passo mais tempo nela (como hoje), percebo que não tenho realmente vivido aqui...
Voltando ao filme, temos um volte-face quando Clooney começa a pensar em assentar, depois de ter conhecido Alex Goran (Vera Farmiga), altamente inteligente e sedutora, que se parece muito com ele, na forma como vive a sua vida...
Mas depois do casamento da sua irmã partilhado a dois, eis que se dá o golpe de teatro...
Quando pensamos que vão viver felizes para sempre, com Clooney a abandonar uma conferência a meio e a correr atrás da sua recente paixão, eis que recebemos o habitualmente real expectável mas nada cinematográfico...
Afinal Alex era casada, mãe de filhos e Bingham apenas algo de paralelo, de cartão...
«Ryan Bingham: I thought I was a part of your life.
Alex Goran: I thought we signed up for the same thing... I thought our relationship was perfectly clear. You are an escape. You're a break from our normal lives. You're a parenthesis.
Ryan Bingham: I'm a parenthesis?»
Pode a vida ser igual a um filme?
Gosto de finais infelizes, porque mais reais...
A imagem de Clooney com o «Exit» por cima e a imagem que deu origem ao cartaz... são obra de quem domina o que está a fazer...
No seu terceiro filme, Reitman demonstra isso...

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Gotta Be Somebody

Não hesito em replicar aqui o meu post de hoje no FB...
Escrevi que seria a imagem do ano, mas talvez seja a imagem de uma vida...
O miúdo que ontem ao ser salvo, abriu espontaneamente os braços de alegria...
como se tivesse feito algo de extraordinário... e não é que o fez?
Sobreviveu!
Um milagre de vida, para os médicos... e para nós também...
Como alguém perguntava minutos atrás, na série "Trauma":
Que fazer quando alguém perto de nós desaparece?
«Just live!», foi a resposta...

Nunca o vídeo dos Nickelback, foi tão adequado...

This time I wonder what it feels like
To find the one in this life
The one we all dream of
But dreams just aren't enough
So I'll be waiting for the real thing
I'll know it by the feeling
The moment when we're meeting
will play out like a scene straight off the silver screen
So I'll be holdin’ my own breath
Right up to the end
Until that moment when
I find the one that I'll spend forever with

'Cause nobody wants to be the last one there
'Cause everyone wants to feel like someone cares
Someone to love with my life in their hands
There's gotta be somebody for me like that

'Cause nobody wants to do it on their own
And everyone wants to know they're not alone
There's somebody else that feels the same somewhere
There's gotta be somebody for me out there

Tonight, out on the street out in the moonlight
And dammit this feels too right
It's just like Déjà Vu
Me standin’ here with you
So I'll be holdin' my own breath
Could this be the end?
Is it that moment when
I find the one that I'll spend forever with?

‘Cause nobody wants to be the last one there
'Cause everyone wants to feel like someone cares
Someone to love with my life in their hands
There's gotta be somebody for me like that

'Cause nobody wants to do it on their own
And everyone wants to know they're not alone
There's somebody else that feels the same somewhere
There's gotta be somebody for me out there

You can't give up!
Lookin' for that diamond in the rough
You never know but when it shows up
Make sure you're holdin' on
‘Cause it could be the one, the one you're waiting on

‘Cause nobody wants to be the last one there
And everyone wants to feel like someone cares
Someone to love with my life in their hands
There has gotta be somebody for me

Nobody wants to do it on their own
And everyone wants to know they're not alone
Is there somebody else that feels the same somewhere?
There`s gotta be somebody for me out there

Nobody wants to be the last one there
'Cause everyone wants to feel like someone cares
Is there somebody else that feels the same somewhere?
There has gotta be somebody for me out there


Gotta be somebody, by Nickelback

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Saber A mar

Atas-me... o pensamento...
Vendas-me... os olhos...
Algemas-me... as mãos...
Prendes-me... o coração...
Cativado pelo teu perfume...
Encarcerado no teu corpo...
Sinto-te... sorrir...
Ouço-te... respirar...
Quero-te... beijar...
Sabes-me A mar...

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Um(a) dia(fotografia) de cada vez

Gosto de viajar... gosto de conhecer... gosto de aprender...
Gosto de aprender com os outros... o que faço diariamente, com boas ou más experiências...
Continuando como um La Pallice, gosto de retirar o melhor de cada momento...
Não gosto de fins, adoro começar...
Porque quando é realmente bom, não acaba... perdura...
Hoje não foi diferente... entre a surpresa de fel do início de dia, com sabor a fim...
e o mel do fim de tarde/noite, que me soube a começo...
a escolha não é difícil...
Chiado, final de tarde, Gonçalo Cadilhe apresenta «Uma fotografia de cada vez», exposição de imagens que perduram numa vida recheada de fantásticas viagens e de bons momento... de tal forma, que nem deseja recordar menos bons...
Just like me...

Viajar é um meio que não tem fim para Cadilhe...
um modus vivendi que ele próprio construíu, para dar asas ao seu sonho de conhecimento...
Sorte? Não encontrada, antes procurada... desde a primeira vez em que se aventurou sozinho pela África do Sul... também de boas memórias para mim...
Desfilam as fotos de uma vida, a sua, pouco registada, porque as lembranças ficam na sua memória, nos livros que escreve, nas páginas do Expresso e não numa câmara com recorte menos fino que as suas palavras...

Vou observando e aprendendo...
Um marinheiro que se solta de uma amarra que o fazia nadar sem sair do mesmo sítio, numa minúscula piscina instalada num cargueiro...
(onde encontrar melhor metáfora para o que me aconteceu nos últimos tempos?)
O Lesoto é o país mais alto do mundo!?! E eu a pensar que era o Nepal...
Um beijo roubado a um mimo em Barcelona... que mimo de rapariga aquela!
O «espírito de escadaria» de que a maioria de nós sofre... aquela coisa que acontece quando devíamos ter dito algo a alguém, enquanto «descíamos as escadas e passávamos por esse mesmo alguém»... e só mais tarde nos arrependemos...
Quantas vezes acontece?

Retenho mais algumas frases...
«O que importa não é chegar, é estar em movimento»...
«O mais importante de um viajante é... um sorriso»
«Guardo as saudades para quando as posso matar»

Um belo fim de tarde culminado com um não menos interessante fim de dia, concluído minutos atrás...

Speakeasy, a convite da minha Amiga Milonga, para ouvir uma revelação reggae de seu nome Jahmmin... grande, grande som... com a experiência de gravação do meu primeiro vídeo para o Tubo (perdoem a qualidade, mas o telemóvel não é nada de jeito e o escriba não é expert na matéria)... numa música «So sweet»... de ouvir e pedir mais...

Duas horas de good vibes, em mais um dia repleto de momentos para recordar...
Hoje será mais um...

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

To Do or Not To Do?

«O que vale a pena ser feito, vale a pena ser bem feito»
Nicolas Poussin

Há largos dias em stand-by... o tempo não ajuda...
Reflicto sobre o que se seguirá... como é habitual, talvez reflicta demais...
Na vida, como no blog... a concretizar, que realmente goste e faça bem...
A saída está mesmo ali...

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Em todas as ruas te encontro

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto, tão perto, tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco

Mário Cesariny, in "Pena Capital"

Next Big Thing

Não foi pela manhã, mas valeu a pena a comemoração... pelo reencontro e interrupção de saudades de quem prezo (e a quem não me pude juntar por força das circunstâncias)...
Pelo reconhecimento de um ano de trabalho fantástico, que deu mesmo «muito trabalho» (férias? quais férias?), mas igualmente um gozo enorme...
Mas fundamentalmente pelas pessoas que me rodeiam, uma equipa construída do ponto zero, que permite superar todos os objectivos a que me proponho... e que ainda hoje me esperou para comemorar comigo...
O reconhecimento que me foi tributado, é-lhes inteiramente devido!
Obrigado!

Go for the next big thing!

(Não faltou o champagne, mas faltaste seguramente Tu!)

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Em Nome do Amor Puro

Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas. Tenho uma coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensível. A culpa não é minha. O que for incompreensível não é mesmo para se perceber. Não é por falta de clareza. Serei muito claro. Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo.
O que eu quero fazer é o elogio do amor puro.
Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Teixeira de Pascoaes meteu-se num navio para ir atrás de uma rapariga inglesa com quem nunca tinha falado. Estava apaixonado, foi parar a Liverpool. Quando finalmente conseguiu falar com ela, arrependeu-se. Quem é que hoje é capaz de se apaixonar assim?
Hoje em dia as pessoas apaixonam-se por uma questão prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão mesmo ali ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato. Por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.
Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram em «diálogo». O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica da camaradagem. A paixão, que deveria ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas em vez de se apaixonarem de verdade, ficam praticamente apaixonadas.
Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há.

Estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr o risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do «tá bem, tudo bem», tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas.
Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o medo, o desequilíbrio, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?
O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso «dá lá um jeitinho» sentimental. Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Por onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, fachada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassado ao pessoal da pantufa e da serenidade.
Amor é amor. É essa a beleza. É esse o perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor é para nos amar, para levar-nos de repente ao céu, a tempo de ainda apanhar um bocadinho de inferno aberto.

O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A «vidinha» é uma conveniência assassina.
O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um principio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não é para se perceber. O amor é um estado de quem se sente.
O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita. Não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que se quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar. O amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe.
Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos.

E durante o dia e durante a vida, quando não está lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem.
Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar esperança, doer sem ficar magoado, viver sózinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder, não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a vida inteira, o amor não.

Só um minuto de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também.

In Último Volume, de Miguel Esteves Cardoso


Porque gosto...
porque me apetece...
porque acredito que existirá... algures...

(talvez o texto mais reproduzido na blogosfera, mas hoje, realmente, apetece-me!)

sábado, 2 de janeiro de 2010

12 Months, 12 Goals


1- S _ _ _ _ p _ _ _ F _ _ _ _ _ _
2- F _ _ _ _ _ _ F _ _ _ _
3- E _ _ _ _ _ _ _ _ A _ _ _
4- C _ _ _ _ D _ _ _
5- R _ _ _ _ _ _ _ _ _ P _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _
6- A _ _ _ _ _ _ _ N _ _ _ _
7- M _ _ _ _ _ _ _ C _ _ _ _ _ _ _ F _ _ _ _ _
8- F _ _ _ _ M _ _ _ - M _ _ _ _ _ _ _
9- A _ _ _ _ _ _ _ A _ _ _ M _ _ _ _ _ _
10- O _ _ _ _ C _ _ _ _ M _ _ _
11- R _ _ _ _ _ _ _ V _ _ _ _ _ M _ _ _
12- P _ _ _ _ _ V _ _ _ _ _

ALEA JACTA EST

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

2010: A Odisseia continua


«Preparem-se para momentos extraordinários»
K