quinta-feira, 23 de abril de 2009
Acaso
No acaso da rua o acaso da rapariga loira.
Mas não, não é aquela.
A outra era noutra rua, noutra cidade, e eu era outro.
Perco-me subitamente da visão imediata,
Estou outra vez na outra cidade, na outra rua,
E a outra rapariga passa.
Que grande vantagem o recordar intransigentemente!
Agora tenho pena de nunca mais ter visto a outra rapariga,
E tenho pena de afinal nem sequer ter olhado para esta.
Que grande vantagem trazer a alma virada do avesso!
Ao menos escrevem-se versos.
Escrevem-se versos, passa-se por doido, e depois por génio, se calhar,
Se calhar, ou até sem calhar,
Maravilha das celebridades!
Ia eu dizendo que ao menos escrevem-se versos...
Mas isto era a respeito de uma rapariga,
De uma rapariga loira,
Mas qual delas?
Havia uma que vi há muito tempo numa outra cidade,
Numa outra espécie de rua;
E houve esta que vi há muito tempo numa outra cidade
Numa outra espécie de rua;
Por que todas as recordações são a mesma recordação,
Tudo que foi é a mesma morte,
Ontem, hoje, quem sabe se até amanhã?
Um transeunte olha para mim com uma estranheza ocasional.
Estaria eu a fazer versos em gestos e caretas?
Pode ser... A rapariga loira?
É a mesma afinal...
Tudo é o mesmo afinal ...
Só eu, de qualquer modo, não sou o mesmo, e isto é o mesmo também afinal
Álvaro de Campos
Por/Puro acaso... encontrei hoje este poema no work...
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
4 comentários:
Não existem acasos amiguito!
Have a nice day! ;)
It's a beautiful day!
Enjoy it!!!
Kiss
Foto de um filme sugestivo, pior que o 1.º, mas com a nostalgia do pensamento 'porque não eu?'.
Continua a achar q se está a perder um autor e que em vez de andares nas feiras dos livros a apagar fogos, devias era com os teus livros incendiar as emoções de quem anda por aí e não consegue expressar o que pensa ou sente!
abraço
Amigo...
demasiado forte que até estou sem palavras...
Obrigado!
Abraço
Enviar um comentário